Qual terá sido a emoção de
Teófilo, ao ler pela primeira vez o Evangelho que S. Lucas escreveu, e lhe
enviou? Teófilo já era cristão, já tinha sido instruído na fé. Mas agora podia
ler o relato da vida, dos ensinamentos e dos milagres de Jesus, numa narração
cuidada e ordenada, em que S. Lucas, inspirado pelo Espírito Santo, recolheu
numerosos testemunhos que ouviu, e integrou muitos outros textos dispersos ou
relatos breves que já existiam. E assim nasceu este Evangelho, que S. Lucas
dedica a Teófilo, (nome que significa: «aquele que ama a Deus»), a quem o envia
com muita amizade, e a quem explica por que o faz: “para que tenhas
conhecimento seguro do que te foi ensinado” (Lucas 1, 1-4).
Também nós precisamos de ter
este “conhecimento seguro” do anúncio de Jesus que nos foi transmitido. A nossa
fé não é uma impressão vaga, um palpite, uma intuição: é uma certeza firme!
É necessário que aprofundemos
cada vez mais este “conhecimento seguro” do mistério de Cristo, pela leitura
diária do Santo Evangelho e pelo estudo e meditação da doutrina da fé.
É indispensável ler
diariamente o Evangelho: pode ser uma leitura seguida de cada um dos quatro
Evangelhos, ou a leitura do Evangelho do dia, ou ambas as coisas: serão apenas
uns breves minutos, mas que aumentarão na mente e no coração de cada um o
fascínio por Jesus Cristo, e o desejo de O seguir e de O amar cada vez mais.
Esta certeza firme que possuiremos,
apesar das nossas fraquezas, será também um reflexo da absoluta segurança que
tinha Jesus, no cumprimento da sua missão, como é patente no episódio da ida de
Jesus
à sinagoga de Nazaré (Lucas 4, 16-21).
Jesus ensina na sinagoga de Nazaré - Mosteiro (ortodoxo) de Dečani, Kosovo |
É útil situar no tempo este episódio.
Depois do milagre de Caná, Jesus foi para Cafarnaum, com sua Mãe, os cinco
discípulos e outros familiares que também tinham estado na festa do casamento
(João 2, 12). Nossa Senhora e estes familiares devem ter seguido para Nazaré,
mas Jesus ficou em Cafarnaum, na casa de Simão Pedro. Foi aqui que Jesus,
caminhando tranquilamente à beira-mar, chamou definitivamente Pedro e André,
Tiago e João (Marcos 1, 16-20), que entretanto tinham voltado à sua anterior
profissão, mas que logo a seguir deixariam, para seguir Jesus.
Um dia, depois de ter já ter
feito diversos milagres em Cafarnaum (Marcos 1, 21-34), Jesus voltou a Nazaré,
“onde se tinha criado”, como diz S. Lucas. E aqui, “segundo o seu costume,
entrou na sinagoga a um sábado, e levantou-Se para fazer a leitura” (4, 16).
Acabada a leitura, e para grande admiração dos que O ouviam, e que já O conheciam
desde criança, Jesus diz: “Cumpriu-se hoje mesmo esta passagem da Escritura que
acabais de ouvir” (4, 21). Este comentário equivale a dizer: ‘Eu sou Aquele de
quem fala a Escritura Sagrada, Aquele que foi ungido para “anunciar a boa nova
aos pobres”. Esse que foi enviado “a proclamar a redenção aos cativos e a vista
aos cegos, a restituir a liberdade aos oprimidos e o ano da graça do Senhor”(4,
19), Esse, sobre quem repousa o Espírito de Deus, sou Eu mesmo. A Palavra de
Deus cumpre-se em Mim. Em Mim, acontece finalmente a salvação prometida’.
São palavras de uma enorme
ousadia: como é que Jesus fala com tanta certeza? Acreditamos que Jesus era o
Filho de Deus, mas, como homem, sabia quem era? Jesus conhecia claramente qual
era a sua missão?
Sim, Jesus não andou à procura
da verdade: sempre conheceu a verdade, que Ele próprio tinha a missão de
revelar. Como escreveu um grande santo do séc. VII, S. Máximo Confessor, “a
natureza humana do Filho de Deus, não por si mesma, mas pela sua união ao Verbo, conhecia e manifestava em si tudo o que é
próprio de Deus” (São Máximo Confessor,
Quaestiones et dubia, Q. I, 67:
CCG10, 155 [66: PG 90. 840], citado pelo Catecismo da Igreja Católica, n. 473).
Em primeiro lugar, Jesus,
Filho de Deus feito homem, tinha um conhecimento íntimo e imediato de seu Pai.
Podermos dizer que Jesus, no mais íntimo da sua alma, via o Pai,
incessantemente, constantemente, o que era para Ele fonte de uma imensa alegria
e felicidade. Por outro lado, na sua inteligência humana manifestava-se o
conhecimento divino que tinha dos pensamentos secretos do coração do homem (Mc
2, 8; Jo 2, 25; 6, 61) (cf. Catecismo da Igreja Católica, n. 473).
Mas, além disso, na mente
humana de Jesus, pela sua união com o Verbo, existia também o perfeito
conhecimento do plano salvador de Deus, que Ele tinha vindo revelar (cf. Catecismo da Igreja Católica, n. 474).
Jesus sabia, pois, quem era, e qual a sua missão.
Por isso, na sinagoga de
Nazaré, pôde dizer com toda a verdade: “Cumpriu-se hoje mesmo esta passagem da
Escritura que acabais de ouvir” (Lucas 4, 21).
Jesus, Filho de Deus feito
homem, cumpre o plano de Deus, e realiza plenamente as esperanças dos homens.
Jesus responde às grandes questões que há na mente e no coração de todos: Que
sentido tem a vida? Porquê a morte? Como podemos ser melhores?
Jesus é decisivo para a vida
humana, e nós temos experiência disso. N’Ele somos conhecidos, amados,
purificados, libertados, salvos. D’Ele nos vem a graça para viver de um modo
novo.
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