sexta-feira, julho 05, 2013

A morte da Rainha Santa


Sendo ainda muito jovem, a Infanta Isabel de Aragão casou com o Rei D. Dinis, e assim se tornou Rainha de Portugal. Depois da sua partida deste mundo foi prontamente invocada como a Rainha Santa, e hoje toda a Igreja a venera como Santa Isabel de Portugal.
Francisco de Zurbarán, Santa Isabel de Portugal,  (1638-42) Óleo sobre tela, Museu do Prado, Madrid

A sua memória celebra-se em 4 de Julho, dia da sua morte, em Estremoz, no ano 1336, quando se dispunha a mediar um acordo de paz entre seu filho, o Rei D. Afonso IV, e Afonso XI de Castela, neto da própria Santa Isabel e sobrinho de D. Afonso IV e também genro deste, por ter casado com a Infanta D. Maria, filha de D. Afonso IV.
Por motivos ligados às celebrações do casamento do futuro D. Pedro I com D. Constança Manuel, que o rei de Castela decidira caprichosamente dificultar, D. Afonso IV preparava-se para invadir o reino vizinho, a partir da fortaleza de Estremoz, situada próximo da fronteira castelhana.
Como se lê na sua mais recente biografia, de que é autor o sacerdote espanhol José Miguel Pero-Sanz, (durante muitos anos director da revista Palabra), e cuja leitura recomendo vivamente, “quando a Rainha Santa, em Coimbra, teve notícia da situação, decidiu pôr-se uma vez mais a caminho, para evitar o choque dos dois monarcas”[1].
A viagem durou quase uma semana, sob um calor abrasador, e Santa Isabel chegou a Estremoz no final de Junho, trazendo já uma grave ferida num dos braços, a que os físicos (médicos) não deram grande importância. No entanto, a Rainha não melhorava, e o seu estado geral ia-se debilitando sempre mais.
Assim descreve José Miguel Pero-Sanz os últimos momentos da Rainha Santa:
“ (…) Na segunda-feira, 1 de Julho, a febre subiu tanto, que teve de permanecer de cama, sem assistir à Missa que se celebrava no oratório do castelo. Os físicos continuavam tranquilos: não tinham consciência de que a Rainha estava a morrer.
“ Mas ela, sim, pressentia-o com toda a clareza.
“Na quinta-feira, dia 4, de manhã muito cedo, confessou-se antes de ouvir Missa nos seus próprios aposentos. Um pouco mais tarde, levantou-se da cama e, com grande esforço, deslocou-se para o oratório onde celebrava Missa o seu confessor. Ali recebeu o Santo Viático, de joelhos, com grande devoção e derramamento de lágrimas. Ao longo do dia, conversou com D. Afonso e D. Beatriz [esposa de D. Afonso IV], que, alternadamente lhe faziam companhia. Num momento determinado, a Santa disse a sua nora: «Senhora filha, arranja um assento a essa Dama que está aí». Beatriz perguntou: «Qual dama?» Isabel respondeu: «Essa aí, com as vestes brancas». Soube-se assim que a Santíssima Virgem, a quem, com tanto amor, tinha venerado sempre, acorrera para a confortar naquela hora.
“Ao anoitecer, disse ao Rei que fosse cear. Assim que Afonso saiu, a Rainha pôs-se de pé e, apoiada na cama, começou a desfalecer. Os presentes chamaram pelo Rei, gritando. A rainha recompôs-se de imediato, e comentou o desfalecimento com o filho. (…)
“Passado algum tempo, e advertindo que chegava o fim, Dona Isabel começou a rezar: «Maria, Mater gratiae, Mater misericordiae, tu me ab hoste protege
et hora mortis suscipe». («Maria, Mãe da Graça, Mãe da Misericórdia, protege-me do inimigo e recebe-me na hora da morte»). Em seguida recitou o Símbolo dos Apóstolos – Credo in Deum Patrem… – o Pater Noster e outras orações. Pouco a pouco a sua voz enfraquecia: já não se conseguiam ouvir as orações que balbuciava. E assim, rezando, entregou o seu espírito ao Criador. Estava a terminar o dia 4 de Julho de 1336. Diz-se que, logo depois de falecer, a boca e os olhos da Rainha se fecharam sozinhos”[2].
“ (…) Neste preciso momento, concluiu-se a história de Dona Isabel, mulher extraordinária, fidelíssima esposa, excelente mãe e maravilhosa rainha. Tal era o conceito que dela tinha toda a gente. Doravante, além disso, seria venerada – nunca o fora até então – como uma santa de Deus”[3].



[1] JOSÉ MIGUEL PERO-SANZ, Santa Isabel, Reina de Portugal, Arcaduz – Palabra, Madrid, 2011, p. 179.
[2] Ibid., p. 180- 181.
[3] Ibid, p. 183.