sexta-feira, abril 04, 2014

“Filho do homem” ou “Filho de Deus”?

No Evangelho do 5º Domingo da Quaresma lemos que, depois de ter recebido a mensagem das irmãs de Lázaro sobre a doença deste, Jesus disse aos discípulos: “Esta enfermidade não causará a morte, mas tem por finalidade a glória de Deus. Por ela será glorificado o Filho de Deus” (João 11, 4; cito segundo a versão on-line da Bíblia Ave Maria)




A última frase chamou-me especialmente a atenção, porque tinha no ouvido a versão do nosso Leccionário, que tem uma relevante diferença, no tocante às palavras em bold, como veremos a seguir.

A Neo-Vulgata confirma a primeira versão que citei: “Infirmitas haec non est ad mortem sed pro gloria Dei, ut glorificetur Filius Dei per eam ”.

Este texto em nada difere do da Vulgata, nomeadamente nas palavras em apreço: “Infirmitas haec non est ad mortem sed pro gloria Dei ut glorificetur Filius Dei per eam”.

No texto espanhol disponível no site Evangelho Quotidiano, lemos: “Esta enfermedad no es mortal; es para gloria de Dios, para que el Hijo de Dios sea glorificado por ella".

Na versão francesa: “Cette maladie ne conduit pas à la mort, elle est pour la gloire de Dieu, afin que par elle le Fils de Dieu soit glorifié”.

E o mesmo em todas as outras versões disponíveis.

Na própria versão portuguesa disponível no mesmo site lê-se: “Esta doença não é de morte, mas sim para a glória de Deus, manifestando-se por ela a glória do Filho de Deus”.


Assim é, igualmente, no texto grego: Αυτή η αρρώστια δεν είναι για να φέρει το θάνατο, αλλά για να φανεί η δύναμη του Θεού, για να φανερωθεί μέσω αυτής η δόξα του Υιού του Θεού”.

Na Nova Bíblia dos Capuchinhos, lemos: “Esta doença não é para a morte, mas sim para a glória de Deus, manifestando-se por ela a glória do Filho de Deus”.

E na edição de 1969 do Leccionário, lia-se igualmente: “Essa doença não é de morte, é antes para a glória de Deus, para o Filho de Deus ser glorificado por ela".

Por que será então que, no actual Leccionário, no Evangeliário e até mesmo na versão on-line do Secretariado Nacional de Liturgia se lê esta tradução: “Essa doença não é mortal, mas é para a glória de Deus, para que por ela seja glorificado o Filho do homem”?


Por que é que, na tradução oficial portuguesa, o “Filho de Deus” foi substituído por “Filho do homem”? Simples distracção? Confusão com outras passagens dos Evangelhos, de resto frequentes, em que Jesus se apresenta como “Filho do homem”?

Mas não é o que lemos em João 11, 4. 

Aqui, Jesus apresenta-se como “Filho de Deus”, em perfeita conformidade com a finalidade do próprio Evangelho de São João: “Muitos outros milagres fez Jesus na presença dos seus discípulos, que não estão escritos neste livro. Estes, porém, foram escritos para acreditardes que Jesus é o Messias, o Filho de Deus, e para que, acreditando, tenhais a vida em seu nome” (João 20, 30-31).

Seria bom, por isso, que esta troca de “Filho de Deus” por “Filho do homem” fosse corrigida logo que possível.

A começar pela leitura que fizermos do Evangelho, já durante a Missa do 5º Domingo da Quaresma.