E haverá ainda uma terceira Epifania, que
aconteceu em Caná da Galileia, quando Jesus converteu a água em vinho, (como
leremos no Evangelho do próximo domingo; este texto, infelizmente, só se lê
hoje no «Ano C»). Santo António de Lisboa, num dos seus sermões, depois de
comentar os anteriores significados, chama-lhe Bethfania, de beth, em
hebraico, que significa casa, “porque, passado um ano do baptismo, realizou um
milagre divino entre as paredes de uma casa, numa festa de núpcias” (Sermão para a Epifania do Senhor, 2)
Estas três epifanias são celebradas desde há
muitos séculos em dias distintos, como muito bem explica no seu blog o Pe. John
Hunwicke. Mas há
ainda alguns textos na liturgia latina que salientam a sua unidade, como esta
antífona do Benedictus da Solenidade
da Epifania do Senhor: “Hoje a Igreja uniu-se ao seu esposo celeste, porque, no
Jordão, Cristo a lavou dos seus pecados; os Magos, com presentes, correm às
festas das núpcias reais; e os convivas alegram-se com a água transformada em
vinho. Aleluia”.
Esta unidade aparece ainda mais claramente na
antífona do Magnificat das II
Vésperas da Epifania:
“Tribus miraculis ornatum diem sanctum colimus: hodie stella magos duxit ad praesepium, hodie vinum ex aqua factum est ad nuptias, hodie in Jordane Christus baptizari voluit, ut salvaret nos universos. Haec est dies illa, quam fecit Dominus; exsultemus et laetemur in ea. Alleluia”, que se pode traduzir assim, como propõe o Duarte Valério, no blog Ecce super montes:
“Celebramos um dia santo ornado de três milagres: hoje, a estrela conduziu os Magos ao presépio; hoje, foi feito vinho a partir de água nas núpcias; hoje, no Jordão, Cristo quis ser baptizado por João, para nos salvar. Aleluia”.
A tradução da Liturgia das Horas é esta: “Recordamos neste dia três mistérios: hoje a estrela guiou os Magos ao presépio; hoje, nas bodas de Caná, a água foi mudada em vinho; hoje, no rio Jordão, Cristo quis ser baptizado, para nos salvar. Aleluia”.
“Tribus miraculis ornatum diem sanctum colimus: hodie stella magos duxit ad praesepium, hodie vinum ex aqua factum est ad nuptias, hodie in Jordane Christus baptizari voluit, ut salvaret nos universos. Haec est dies illa, quam fecit Dominus; exsultemus et laetemur in ea. Alleluia”, que se pode traduzir assim, como propõe o Duarte Valério, no blog Ecce super montes:
“Celebramos um dia santo ornado de três milagres: hoje, a estrela conduziu os Magos ao presépio; hoje, foi feito vinho a partir de água nas núpcias; hoje, no Jordão, Cristo quis ser baptizado por João, para nos salvar. Aleluia”.
A tradução da Liturgia das Horas é esta: “Recordamos neste dia três mistérios: hoje a estrela guiou os Magos ao presépio; hoje, nas bodas de Caná, a água foi mudada em vinho; hoje, no rio Jordão, Cristo quis ser baptizado, para nos salvar. Aleluia”.
O tempo da Epifania, em sentido lato, é
portanto um período de celebração contemplativa e de reflexão profunda sobre as
múltiplas manifestações do Deus-Homem, Jesus Cristo.
Como aconteceu esta segunda Epifania de
Cristo, o seu Baptismo? Os quatro Evangelhos, embora com matizes diferentes,
mostram-nos que Jesus, um dia, se integrou silenciosamente na multidão dos que
esperavam o baptismo de João. Sem nenhum gesto, sem nenhuma palavra, como
acontece muitas vezes na nossa vida; quase não damos por Ele, naquele momento
não O reconhecemos... Mas Jesus está ali, e não é apenas um de nós, não é
somente um amigo, é o próprio Filho de Deus junto de nós.
Assim aconteceu naquele dia: “quando todo o
povo recebeu o baptismo, Jesus também foi baptizado”. Parece ser apenas mais um,
mas não: Jesus é o Messias, que nos procura, que vem ter connosco, onde quer
que estejamos, e vem sem nenhum poder humano, apenas com a força do seu
infinito amor e da sua misericórdia.
Piero della Francesca, Baptismo de Cristo (1448-1450)
O Evangelho diz-nos que, depois de descer às
águas, Jesus permanece em oração. Esta é uma preciosa informação de S. Lucas,
que não podemos passar em claro: o ministério de Jesus começa com a oração, e
termina com a oração (Lucas 22, 46).
A
oração de Jesus é modelo e exemplo para nós, mas principalmente revela a sua
plena união com o Pai, manifesta que Jesus Cristo vive, também como homem, uma
perfeita sintonia com a vontade do Pai e uma perfeita contemplação da face do
Pai.
E o Pai corresponde a esta perfeita
obediência e intimidade filial de seu Filho.
S. Lucas diz-nos que, “enquanto orava, o Céu abriu-se, e o Espírito Santo desceu sobre Ele em forma corporal, como uma pomba”. “O Céu abriu-se”, quer dizer, vai começar a definitiva revelação de Deus aos homens. E o Espírito Santo, que já habitava na humanidade de Cristo, vai impeli-Lo nesta nova etapa da história da salvação, para libertar os que estavam sob o domínio de Satanás e anunciar a boa nova aos pobres.
S. Lucas diz-nos que, “enquanto orava, o Céu abriu-se, e o Espírito Santo desceu sobre Ele em forma corporal, como uma pomba”. “O Céu abriu-se”, quer dizer, vai começar a definitiva revelação de Deus aos homens. E o Espírito Santo, que já habitava na humanidade de Cristo, vai impeli-Lo nesta nova etapa da história da salvação, para libertar os que estavam sob o domínio de Satanás e anunciar a boa nova aos pobres.
Depois, o próprio Jesus ouve estas palavras
que Lhe são dirigidas a Si, exclusivamente: “ «Tu és o meu Filho muito amado:
em Ti pus toda a minha complacência”.
No entanto, também para nós é muito importante ouvi-las. Ao convidar-nos a escutar estas palavras, no momento em que Jesus Cristo vai iniciar a sua caminhada pela Galileia, para proclamar o Reino de Deus em palavras e obras, S. Lucas quer anunciar-nos de novo quem é Jesus: Ele é o Filho que quis tornar-Se Servo, como anuncia Isaías, para cumprir em nosso favor, com a sua fragilidade humana e o seu poder divino, o plano do Pai. Jesus não é um simples homem nem um profeta excepcional, é o “Filho muito amado”, que aceita morrer e dar a vida por todos. Cristo aceita mergulhar na morte, como mergulhou nas águas do Jordão, para que também nós possamos ser, n’Ele, filhos de Deus.
No entanto, também para nós é muito importante ouvi-las. Ao convidar-nos a escutar estas palavras, no momento em que Jesus Cristo vai iniciar a sua caminhada pela Galileia, para proclamar o Reino de Deus em palavras e obras, S. Lucas quer anunciar-nos de novo quem é Jesus: Ele é o Filho que quis tornar-Se Servo, como anuncia Isaías, para cumprir em nosso favor, com a sua fragilidade humana e o seu poder divino, o plano do Pai. Jesus não é um simples homem nem um profeta excepcional, é o “Filho muito amado”, que aceita morrer e dar a vida por todos. Cristo aceita mergulhar na morte, como mergulhou nas águas do Jordão, para que também nós possamos ser, n’Ele, filhos de Deus.
O baptismo, enquanto imersão nas águas, é uma
espécie de sepultura, a que depois se segue, na emersão, uma espécie de
ressurreição. O baptismo de Jesus anuncia assim o nosso próprio baptismo, em
que «imergimos» na morte de Cristo para podermos «emergir» com Ele, isto é, participar
na sua ressurreição. Diz-nos S. Paulo: “Ou
ignorais que todos os que fomos baptizados em Jesus Cristo, fomos baptizados na
sua morte? Fomos, pois,
sepultados com Ele na sua morte pelo baptismo para que, como Cristo ressurgiu
dos mortos pela glória do Pai, assim nós também vivamos uma vida nova. Se fomos feitos o mesmo ser com ele
por uma morte semelhante à sua, sê-lo-emos igualmente por uma comum
ressurreição (Romanos 6, 3-5).
Esta identificação com Cristo manifesta-se na vida, em tantas
escolhas que fazemos, e também na liturgia, que precisamos de viver mais
intensamente e mais piedosamente. A liturgia tem que ser oração
e ao mesmo tempo, expressão de entrega.
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