terça-feira, abril 30, 2013

Estou a amar como Jesus?


Os Actos dos Apóstolos levam-nos a assistir ao final da primeira viagem missionária de Paulo e Barnabé: desde a última cidade que visitaram, que se chamava Derbe, regressam a Antioquia, na Síria, de onde tinham partido. Quais eram os sentimentos dos dois apóstolos, no fim desta emocionante viagem missionária? O texto dos Actos mostra-nos claramente que, de volta a Antioquia, Paulo e Barnabé traziam o coração cheio de alegria e gratidão: quando partiram, iam “confiados na graça de Deus”; agora, ao regressar, “convocaram a Igreja”, e “contaram tudo o que Deus fizera com eles, e como abrira aos gentios a porta da fé” (Actos 14, 27). Tinha sido uma viagem cheia de frutos, à sua palavra muitas pessoas se tinham convertido, mas Paulo e Barnabé atribuem a Deus todas estas conversões, pois Deus é que tinha actuado, e eles tinham sido nas suas mãos instrumentos dóceis e fiéis.

E nós, que coisas fazemos para ajudar a abrir a muitas pessoas “a porta da fé”?

Quando damos catequese ou realizamos qualquer outro apostolado, quando falamos de Jesus aos nossos amigos ou abordamos temas de fé com tantas outras pessoas, confiamos na graça de Deus e na acção do Espírito Santo?

Procuramos não ser um obstáculo à acção de Deus e, pelo contrário, ser instrumentos dóceis nas suas mãos?

Tal como os pastorinhos de Fátima, rezamos e oferecemos sacrifícios pelas pessoas que desejaríamos que se convertessem a Jesus?

Quando surgem obstáculos ou dificuldades, pedimos ajuda a Deus, e continuamos alegres e confiantes, sem desistir nem desanimar?

Muitas pessoas desanimam, ao considerarem como é violento e injusto o mundo em que vivemos. Terrorismo, guerras, violências, roubos, abusos, ambição desordenada, desonestidade, imoralidade, e tantos outros males, são traços demasiado acentuados do mundo actual.

Não são os únicos, mas às vezes parecem sufocar o que há de bom na vida humana. O mal às vezes parece que é mais forte do que o bem e a verdade. O maligno parece às vezes que é o senhor do mundo. Quem irá prevalecer? Quem irá vencer definitivamente?

A Palavra de Deus também nos dá a resposta a esta pergunta. Lendo o Apocalipse, somos convidados a ver, na luz da fé, o que viu, com olhar profético, S. João: “Eu, João, vi um novo céu e uma nova terra… Vi também a cidade santa, a nova Jerusalém, que descia do céu da presença de Deus…” (Apocalipse 21, 1-2). É uma visão bela e grandiosa, que alenta a nossa esperança. Embora continuasse a viver num mundo muito violento e injusto, João viu em Deus “um novo céu e uma nova terra”, isto é, um Universo novo, ou antes, renovado, radicalmente transformado.

Haverá uma renovação física do Universo, para que ele próprio participe, à sua maneira, na glória de Cristo ressuscitado? Há vários passos do Novo Testamento que nos transmitem esta mensagem. No entanto, não sabemos quando nem como acontecerá essa renovação. O que sabemos, com toda a clareza, como diz o Apocalipse, é que haverá uma renovação moral e espiritual: o mundo novo e definitivo será um mundo sem maldade e sem pecado, em que a vitória de Cristo ressuscitado se estenderá a todas as dimensões da vida.

Deus acendeu nos nossos corações a esperança deste mundo novo, e não devemos deixar que a chama desta esperança se apague em nós. Não nos devemos resignar ao mundo, tal como ele existe hoje.

Este mundo não é definitivo, não nos «enche as medidas», e precisa de ser, desde já, profundamente purificado.

E pedimos por intercessão do Imaculado Coração de Maria, que esta purificação comece por nós, pelos nossos corações e por toda a nossa vida. Que a nossa vida seja já hoje renovada, convertida, pela graça de Cristo, e assim sejamos fermento de um mundo novo, transformado pela presença de Deus e pela sua inesgotável misericórdia.

Jesus não nos convida a uma vida ‘mediana’, em que apenas se procura não cometer grandes erros, nem grandes desvios, mas sim a uma vida entregue, segundo a medida do seu amor levado “até ao fim” (João 13, 1). As diversas religiões e sabedorias da humanidade é que são animadas por ideais de harmonia, equilíbrio, bom senso, mas a fé cristã é completamente diferente. Nós não somos chamados a um certo ‘equilíbrio’, mas sim uma entrega total, porque Jesus, ao morrer por nós, deu-nos a prova máxima do amor (João 15, 3).



E por isso, Jesus não nos manda ser apenas ‘boas pessoas’, mas diz-nos: “Dou-vos um mandamento novo: que vos ameis uns aos outros. Como Eu vos amei, amai-vos também uns aos outros”(João 13, 34).
 
Jerôme Nadal (ed.), Jesus lava os pás aos Apóstolos (1595)
 

Há muitos graus e formas de amor, e nem todas igualmente verdadeiras. Mas o amor a que Jesus nos chama é “novo”: “como Eu vos amei”. A Paixão de Jesus mostra-nos de um modo profundamente emocionante como foi, e até onde chegou este amor. Nunca ninguém amou como Jesus. Parece impossível atingir a perfeição e a intensidade do amor de Jesus. No entanto, o amor de Jesus é o modelo, a fonte, a inspiração e o referencial de todo o amor humano.

Todos nos podemos perguntar: estou a amar como Jesus? Ou o meu amor é apenas terreno, mundano fechado, egoísta? Os que são casados ou os que são solteiros, os noivos que preparam o seu casamento ou os jovens que estão no Seminário, os doentes e os sãos, os idosos e os mais novos: todos somos chamados a amar como Jesus. O amor de Jesus é dom, mais do que posse, é esquecimento de si, para pensar no outro, e é muitas vezes renúncia, feita com alegria, para fazer os outros mais felizes.

O amor de Jesus leva os namorados a guardar-se na pureza e castidade, até ao dia em que, pela mão de Jesus, cada um se dê ao outro para sempre. Leva os casais a uma fidelidade de coração e de todo o ser, que não se discute e nunca está em questão. E leva até alguns a renunciar a um amor humano, para servir com alegria e por amor, na Igreja, os outros irmãos.

“Como Eu vos amei, amai-vos também uns aos outros”. Segundo conta um autor do séc. III, Tertuliano, os primeiros cristãos tomaram tão a sério estas palavras de Jesus, que os gentios exclamavam, admirados: «Vede como eles se amam!» (Apologeticum 39, 7, CCL 1, 151).

Nós acreditamos no amor de Jesus, e acreditamos que é possível vivê-lo. Isto não significa que sejamos perfeitos: continuamos a ser imperfeitos e pecadores. Mas pedimos-Lhe que nos dê um coração novo, capaz de viver o seu mandamento novo, e assim antecipar, à nossa volta e no mundo em que vivemos, esse tempo que ansiosamente esperamos, em que o próprio Deus fará novas “todas as coisas”.

 

3 comentários:

  1. É pena que tão excelente reflexão é descontentada na "Igreja Babysitter"!

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  2. Mais uma magnifica reflexão! Como sempre.
    Mais uma aula.
    A questão central é essa mesmo.
    O que fazemos nós para abrir a "porta da fé" aos outros?
    Com o nosso exemplo e dentro das nossas possibilidades com a ajuda de Deus.
    Sem fé é dificil contagiar os outros.
    Â luz da filosofia de São Tomás de a
    Aquino, aprendi alguns anos atrás, que existem dois tipos de conhecimeto o natural e o sobrenatural. O natural é aquele que obtemos pelo uso da nossa razão enquanto que o sobrenatural é aquele que se obtém pela razão iluminada pela fé. Sendo que, a fé é um suplemento que DEUS dá à inteligência e que permite conhecer realidades superiores à natureza.
    Será esta a chave para responder à questão anterior?
    Com a presença de Deus e pela fé serão os instrumentos necessários que qualquer cristão dispõem para se tornar uma pessoa melhor e desta forma servir de exemplo aos outros.
    Será? Eu creio que sim.
    Célia Fonseca
    (I.S.E.C. ex. aluna)

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