Crucifixo do retábulo da Igreja do Seminário dos Olivais (porm.) |
(…) Entre os personagens da paixão com os quais nos
podemos identificar dou-me conta que não mencionei um, aquele que mais espera
que sigam o seu exemplo: o bom ladrão.
O bom ladrão faz uma completa confissão de pecado; diz
ao seu companheiro que insulta Jesus: «Nem sequer temes a Deus, tu que sofres o
mesmo suplício? Quanto a nós, fez-se justiça, pois recebemos o castigo que as
nossas acções mereciam; mas Ele nada praticou de condenável» (Lucas 23, 40s.).
O bom ladrão demonstra-se um excelente teólogo. De facto, só Deus sofre
absolutamente como inocente; outro ser que sofre deve dizer: «sofro justamente»,
porque embora não seja responsável pela acção que me é atribuída, nunca sou
totalmente sem culpa. Só o sofrimento das crianças inocentes se assemelha com o
de Deus e por isso é tão misterioso e sagrado.
Quantos delitos atrozes permaneceram nos últimos
tempos sem um culpado, quantos casos sem solução! O bom ladrão lança um apelo
aos responsáveis: fazei como eu, denunciai-vos, confessai a vossa culpa:
experimentareis também vós a alegria que senti quando ouvi a palavra de Jesus:
«Hoje estarás comigo no paraíso!» (Lucas 23, 43). Quantos réus confessos podem
confirmar que foi assim também para eles: passaram do inferno para o paraíso no
dia que tiveram a coragem de se arrepender e confessar a própria culpa. Conheci
alguns. O paraíso prometido é a paz da consciência, a possibilidade de se olhar
no espelho ou para os próprios filhos sem sentir desprezo por si mesmo.
Não leveis para o túmulo o vosso segredo;
provocar-vos-ia uma condenação muito mais temível do que a humana. O nosso povo
não é cruel com quem errou, mas reconhece o mal feito, sinceramente, não só
pelos cálculos. Ao contrário! Está pronto a ter piedade e acompanhar o
arrependido no seu caminho de redenção (que em muitos casos se torna breve).
«Deus perdoa muitas coisas, por uma obra boa», disse Lúcia ao Inominado no
livro «Os Noivos». Ainda mais, é preciso dizer, ele perdoa muitas coisas por um
acto de arrependimento. Prometeu solenemente: «Mesmo que os vossos pecados
sejam como escarlate, tornar-se-ão brancos como a neve. Mesmo que sejam
vermelhos como a púrpura, ficarão brancos como a lã» (Isaías 1, 18).
Retomemos agora, ouvimos no início, a nossa tarefa
neste dia: com voz de alegria exaltemos a vitória da cruz, entoemos hinos de
louvor ao Senhor. «O Redemptor, sume carmen temet concinentium»: E tu, ó nosso
Redentor, acolhe o cântico que te elevamos.
(De uma homilia do Padre Raniero Cantalamessa, pregador da Casa Pontifícia, por ocasião da Celebração da Paixão do Senhor, em6/4/2012).
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