Quando
lemos a conclusão do Evangelho segundo S. Lucas, não temos a sensação de ter
chegado ao fim. Pelo contrário: o que S. Lucas nos apresenta é o princípio de
um tempo novo, que não tem fim. Este Evangelho diz-nos que Jesus levou os discípulos
até junto de Betânia e, erguendo as mãos, abençoou-os. Enquanto os abençoava,
afastou-Se deles, e foi elevado ao Céu” (Lucas 24, 51). A partir desse
momento, os discípulos não viram mais Jesus. E, por causa disso, devem ter
sentido, num primeiro instante, tristeza e saudade. Mas logo a seguir sentiram
uma alegria ainda maior, como diz claramente o Evangelho: “Eles prostraram-se
diante de Jesus, e depois voltaram para Jerusalém com grande alegria” (Lucas
24, 52).
Em
que se fundamenta esta alegria dos discípulos? Fundamenta-se na sua fé em Jesus
Cristo, que eles viram sofrer terrivelmente e morrer, mas que viram de novo,
cheio de vida e glória. Os discípulos viram Jesus morto na cruz, viram o seu
corpo sepultado, mas também O viram ressuscitado.
Nos
Actos dos Apóstolos, lemos que Jesus, “depois da sua paixão, Se apresentou
vivo, com muitas provas, aparecendo-lhes durante quarenta dias, e falando-lhes
do Reino de Deus” (1, 3). Durante esses dias, os discípulos viram com os seus
olhos, e experimentaram com todo o seu ser que Jesus está vivo, não morre mais!
E começaram a compreender que Jesus não era só o seu Amigo, o seu Senhor, mas o
Amigo e o Salvador de todos os homens. Perceberam que o seu Reino não era como
os pobres reinos deste mundo, que duram uns anos ou uns séculos, mas era um
Reino eterno, e abrangia toda a Terra e o Universo inteiro. E acreditaram no
mais fundo dos seus corações que Jesus não era um simples homem: sim, era homem
como nós, e era também Deus como o Pai, que O tinha enviado ao mundo para
apelar à conversão e oferecer a todos os homens o perdão e a misericórdia.
E
por isso, quando Jesus deixou de estar visivelmente junto deles, quando Jesus
«subiu» ao Céu, isto é, quando a sua humanidade entrou definitivamente na
glória divina, os discípulos sentiram que Jesus continuava ao seu lado, ainda
mais do que antes; que o seu poder abraçava o mundo inteiro; e que o seu amor
envolvia todos os homens, de todos os tempos. Não havia motivos para a
tristeza, mas sim para uma grande alegria!
Jerôme Nadal (ed.), A Ascensão de Cristo (porm.) |
Também
nós sentimos esta alegria profunda: acreditamos que Jesus vive para sempre, que
está na glória do Pai, e que ao mesmo tempo está connosco, está ao nosso lado,
e nunca nos abandona!
No
entanto, tal como aconteceu com os discípulos, esta alegria existe em nós a par
de um grande sentido de missão e de um grande sentido de responsabilidade. Na
sua Ascensão, Jesus, que é o Senhor do mundo, confiou-nos o mundo. Neste mundo,
há muitas pessoas que não conhecem o mistério de Cristo, mas necessitam de O conhecer,
e Deus quer que o possam conhecer, para serem salvos, e para a sua vida ter
sentido.
Por
isso, àqueles que O viram morto e ressuscitado, Jesus disse, como se lê no
Evangelho: “Vós sois testemunhas disso” (Lucas 24, 48). E, no próprio
dia da Ascensão, disse ainda mais claramente aos discípulos: “Recebereis a
força do Espírito Santo, que descerá sobre vós, e sereis minhas testemunhas em
Jerusalém e em toda a Judeia e até aos confins da Terra” (Actos 1,
8).
É
esta missão que está em marcha, e que depende de nós, da nossa entrega, para se
cumprir, com a força do Espírito Santo. Depende de nós, de todos e de cada um,
da nossa sincera conversão, da nossa fidelidade, do nosso amor, e também do
modo como falamos apaixonadamente da nossa fé, de como a defendemos, de como a
apresentamos, como a «explicamos», de como apresentamos a sua beleza, a sua
exigência santificadora e a sua fascinante verdade.
Depende
em grande medida dos casais cristãos: se forem fiéis e unidos, generosos e
confiantes. reflectirão pela sua vida e pela sua união, o amor de Cristo por
todos os homens. Depende também das famílias: se forem famílias conduzidas pela
fé e em plena sintonia com os ensinamentos da Igreja, serão um fermento muito
poderoso, que transformará o mundo por dentro.
Mas
a missão também depende dos doentes e dos que sofrem: se oferecerem os seus
sofrimentos com amor, abrirão caminho à graça de Deus no coração de tantas
outras pessoas.
E depende ainda, de modo particular, dos
sacerdotes, do seu “ser apaixonados por Cristo”, como disse Bento XVI na
Vigília do encerramento do Ano Sacerdotal (10 de Junho de 2010). Depende de que
sejam sacerdotes que “dedicam realmente toda a sua força pela evangelização,
pela presença do Senhor e dos seus Sacramentos”, sacerdotes que trazem em si “o
fogo do amor de Cristo”, que estão cheios “da alegria do Senhor”.
Numa das
suas primeiras Audiências Gerais (3 de Março de 2013), o Papa Francisco
salientou que, nos Evangelhos, “as primeiras testemunhas da Ressurreição são as
mulheres. E isto é bonito. Esta é um pouco a missão das mulheres: mães e
mulheres! Dar testemunho aos filhos e aos netos, de que Jesus está vivo, é o
Vivente, ressuscitou. Mães e mulheres, ide em frente com este testemunho!”.
Ao
subir ao Céus, Cristo enviou-nos “Aquele que foi prometido” pelo Pai, o
Espírito Santo, que é a “força do alto” (Lucas 24, 49), que nos impele e conduz
pelos caminhos deste mundo.
Que
o Espírito nos inspire no apostolado que realizamos e no testemunho que damos,
para que vença as barreiras do desinteresse, do relativismo e da descrença, e a
alegria da fé seja uma chama cada vez mais intensa no coração de todos os
homens.
Hoje comemora-se " Ascenção de Cristo".
ResponderEliminarNa verdade, não o podemos ver com os nossos cinco sentidos.
Sendo assim, obriga-nos a ter uma relação pessoal, muito mais intensa e profunda com Cristo. Passou-se para algo transcendental.
E como tal, mais rica.
Que o Santo Paráclito, nos ilumine e nos conduza nos nossos caminhos.
Bem haja.
Célia Fonseca