sábado, maio 11, 2013

Confiou-nos o mundo


Quando lemos a conclusão do Evangelho segundo S. Lucas, não temos a sensação de ter chegado ao fim. Pelo contrário: o que S. Lucas nos apresenta é o princípio de um tempo novo, que não tem fim. Este Evangelho diz-nos que Jesus levou os discípulos até junto de Betânia e, erguendo as mãos, abençoou-os. Enquanto os abençoava, afastou-Se deles, e foi elevado ao Céu” (Lucas 24, 51). A partir desse momento, os discípulos não viram mais Jesus. E, por causa disso, devem ter sentido, num primeiro instante, tristeza e saudade. Mas logo a seguir sentiram uma alegria ainda maior, como diz claramente o Evangelho: “Eles prostraram-se diante de Jesus, e depois voltaram para Jerusalém com grande alegria” (Lucas 24, 52).
Em que se fundamenta esta alegria dos discípulos? Fundamenta-se na sua fé em Jesus Cristo, que eles viram sofrer terrivelmente e morrer, mas que viram de novo, cheio de vida e glória. Os discípulos viram Jesus morto na cruz, viram o seu corpo sepultado, mas também O viram ressuscitado.
Nos Actos dos Apóstolos, lemos que Jesus, “depois da sua paixão, Se apresentou vivo, com muitas provas, aparecendo-lhes durante quarenta dias, e falando-lhes do Reino de Deus” (1, 3). Durante esses dias, os discípulos viram com os seus olhos, e experimentaram com todo o seu ser que Jesus está vivo, não morre mais! E começaram a compreender que Jesus não era só o seu Amigo, o seu Senhor, mas o Amigo e o Salvador de todos os homens. Perceberam que o seu Reino não era como os pobres reinos deste mundo, que duram uns anos ou uns séculos, mas era um Reino eterno, e abrangia toda a Terra e o Universo inteiro. E acreditaram no mais fundo dos seus corações que Jesus não era um simples homem: sim, era homem como nós, e era também Deus como o Pai, que O tinha enviado ao mundo para apelar à conversão e oferecer a todos os homens o perdão e a misericórdia. 
E por isso, quando Jesus deixou de estar visivelmente junto deles, quando Jesus «subiu» ao Céu, isto é, quando a sua humanidade entrou definitivamente na glória divina, os discípulos sentiram que Jesus continuava ao seu lado, ainda mais do que antes; que o seu poder abraçava o mundo inteiro; e que o seu amor envolvia todos os homens, de todos os tempos. Não havia motivos para a tristeza, mas sim para uma grande alegria!

Jerôme Nadal (ed.), A Ascensão de Cristo (porm.)


Também nós sentimos esta alegria profunda: acreditamos que Jesus vive para sempre, que está na glória do Pai, e que ao mesmo tempo está connosco, está ao nosso lado, e nunca nos abandona!
No entanto, tal como aconteceu com os discípulos, esta alegria existe em nós a par de um grande sentido de missão e de um grande sentido de responsabilidade. Na sua Ascensão, Jesus, que é o Senhor do mundo, confiou-nos o mundo. Neste mundo, há muitas pessoas que não conhecem o mistério de Cristo, mas necessitam de O conhecer, e Deus quer que o possam conhecer, para serem salvos, e para a sua vida ter sentido.
Por isso, àqueles que O viram morto e ressuscitado, Jesus disse, como se lê no Evangelho: “Vós sois testemunhas disso” (Lucas 24, 48). E, no próprio dia da Ascensão, disse ainda mais claramente aos discípulos: “Recebereis a força do Espírito Santo, que descerá sobre vós, e sereis minhas testemunhas em Jerusalém e em toda a Judeia e até aos confins da Terra” (Actos 1, 8). 
É esta missão que está em marcha, e que depende de nós, da nossa entrega, para se cumprir, com a força do Espírito Santo. Depende de nós, de todos e de cada um, da nossa sincera conversão, da nossa fidelidade, do nosso amor, e também do modo como falamos apaixonadamente da nossa fé, de como a defendemos, de como a apresentamos, como a «explicamos», de como apresentamos a sua beleza, a sua exigência santificadora e a sua fascinante verdade.
Depende em grande medida dos casais cristãos: se forem fiéis e unidos, generosos e confiantes. reflectirão pela sua vida e pela sua união, o amor de Cristo por todos os homens. Depende também das famílias: se forem famílias conduzidas pela fé e em plena sintonia com os ensinamentos da Igreja, serão um fermento muito poderoso, que transformará o mundo por dentro.
Mas a missão também depende dos doentes e dos que sofrem: se oferecerem os seus sofrimentos com amor, abrirão caminho à graça de Deus no coração de tantas outras pessoas. 
E depende ainda, de modo particular, dos sacerdotes, do seu “ser apaixonados por Cristo”, como disse Bento XVI na Vigília do encerramento do Ano Sacerdotal (10 de Junho de 2010). Depende de que sejam sacerdotes que “dedicam realmente toda a sua força pela evangelização, pela presença do Senhor e dos seus Sacramentos”, sacerdotes que trazem em si “o fogo do amor de Cristo”, que estão cheios “da alegria do Senhor”.

Numa das suas primeiras Audiências Gerais (3 de Março de 2013), o Papa Francisco salientou que, nos Evangelhos, “as primeiras testemunhas da Ressurreição são as mulheres. E isto é bonito. Esta é um pouco a missão das mulheres: mães e mulheres! Dar testemunho aos filhos e aos netos, de que Jesus está vivo, é o Vivente, ressuscitou. Mães e mulheres, ide em frente com este testemunho!”.

Ao subir ao Céus, Cristo enviou-nos “Aquele que foi prometido” pelo Pai, o Espírito Santo, que é a “força do alto” (Lucas 24, 49), que nos impele e conduz pelos caminhos deste mundo.
Que o Espírito nos inspire no apostolado que realizamos e no testemunho que damos, para que vença as barreiras do desinteresse, do relativismo e da descrença, e a alegria da fé seja uma chama cada vez mais intensa no coração de todos os homens.

1 comentário:

  1. Hoje comemora-se " Ascenção de Cristo".
    Na verdade, não o podemos ver com os nossos cinco sentidos.
    Sendo assim, obriga-nos a ter uma relação pessoal, muito mais intensa e profunda com Cristo. Passou-se para algo transcendental.
    E como tal, mais rica.
    Que o Santo Paráclito, nos ilumine e nos conduza nos nossos caminhos.
    Bem haja.
    Célia Fonseca

    ResponderEliminar